Boa tarde, leitoras queridas!
Prometi lá no Instagram que daria um spoiler de Um Lorde do Passado e deixei que vocês escolhessem: romântico ou sapeca. Por uma pequena margem, o spoiler romântico venceu e aqui vai uma cena bem fofa para vocês.
Um Lorde do Passado lança amanhã na Amazon, dia 01/05, e já está disponível em formato impresso na UICLAP.
Convido vocês também para a live de lançamento que acontece amanhã às 20h.
Agora, o spoiler! Se você não quer spoiler, não continue lendo!
FLÁVIA
Theobald estava prestes a criar um padrão bastante difícil dos homens cachoeirenses atingirem, mas parecia óbvio que a banda não teria uma valsa na manga para tocar. Não é como se eles pudessem prever esse tipo de pedido vindo do público. Visivelmente chateado, Theo move os ombros para me dizer que tentou e segura a minha mão. Estamos nos afastando quando alguém interfere.
— Ah, vocês não conseguem uma partitura? — A pessoa, uma mulher mais velha, se manifesta. — O jovem só quer fazer um gesto romântico para a sua namorada.
Céus, eles pensam que estamos juntos. Tipo juntos, mesmo, como um casal. E não é que somos exatamente isso? Um casal? Enquanto ele estiver na minha casa e trocarmos beijos e carícias por aí, não há outra forma de nos descrever.
— Posso baixar uma, mas nunca toquei.
— Eu toco. — Um rapaz se destaca. — A!nal, não podemos impedir o romance, não é mesmo? Quem sabe Strauss não inspira o amor essa noite?
O aniversário de Dora, um jantar formal que me serviria para fazer contatos, de repente se transforma em um evento que tem o pedido de Theo como ponto alto da noite. Não sei se estou morrendo de vergonha ou curiosidade para ver até onde isso vai.
Esse é meu toque de midas: tudo que eu toco vira caos.
O jovem, que não deve ter mais de vinte e cinco anos, sobe ao palco e assume o teclado. O pianista deixa com ele um iPad com a partitura. Ele estala os dedos antes de sorrir para Theobald e atacar o instrumento.
Aos primeiros acordes da valsa, todo mundo olha para nós. Theo pega a minha mão e me conduz para o centro da pista, que foi esvaziado para nos dar espaço. Nesse momento, todo o seu porte ducal !ca em evidência. A forma como suas costas se endireitam, seus olhos se prendem aos meus e seu braço se eleva para que eu possa tocá-lo.
Não sei se me lembro de como dançar uma valsa. Eu tinha uns quatorze anos quando valsei pela última vez — na festa de quinze anos de Adenair — e nem foi muito bem. Meu parceiro era um moleque de aparelho que mascava chicletes o tempo todo e tinha cheiro de tutti-frutti.
Vinte e cinco anos se passaram e o homem à minha frente definitivamente não cheira a chiclete. Ele coloca uma mão marota em minha cintura e move os lábios.
— Dessa vez eu guio.
Se você quiser me guiar até o inferno eu vou. Deixo que ele rodopie comigo enquanto a festa inteira nos observa. Depois de um minuto inteiro em que tudo se resume a nós, outros casais se juntam à pista. Pessoas mais velhas, que gostam de música clássica, e alguns jovens curiosos. A organização acende um belo lustre sobre nossas cabeças e, se eu fechar os olhos, talvez possa me sentir em um baile em 1845.
Não. Pre!ro manter os olhos abertos e apreciar o que o acaso me presenteou. O toque suave e casto da valsa é quase mais erótico do que as carícias íntimas que trocamos. Meu vestido reprime meus movimentos, mas Theo se move com mais retidão a !m de evitar que eu não o acompanhe.
O Danúbio Azul tem quase dez minutos e pura nostalgia e, quando acaba, todo mundo aplaude. Algumas pessoas passam por mim e me cumprimentam, a maioria mulheres.
— Tirou a sorte grande, aproveite.
— Esse aí é para casar, não deixe que escape.
— Com um homem apaixonado desses eu estaria nas nuvens. Meu coração dispara, tanto pelo esforço da dança, quanto pela emoção. Theo percebe minha agitação e me leva para fora da pista.
— Minha lady precisa se refrescar — ele murmura em meus ouvidos. — Vou conduzi-la até o toalete.— É assim que se faz nos bailes, não é? — pergunto, querendo me distrair da ideia de que esse homem acaba de fazer uma das coisas mais românticas da minha vida inteira e não é meu. Não é para sempre. Não tenho nem chance de lutar por ele e saber disso me atra‐ palha a respirar.
— Sim, o cavalheiro sempre deixa a dama na companhia de outras, no toalete, para que ela se prepare para a próxima dança. — Ele beija meus dedos. — Pegarei uma bebida e a esperarei.
Entro meio que tropeçando no banheiro e me deparo com Alcione retocando a maquiagem. Algumas mulheres me cumprimentam pela sorte em ter um bonitão apaixonado por mim e acabamos ficando apenas nós duas aqui. Tranco-me no reservado e finjo que estou fazendo o xixi mais demorado do universo e, quando saio, ela se foi.
Olho-me no espelho e passo um papel toalha em meu rosto para reduzir a umidade. Não está calor, o ar-condicionado do Bom Gosto é sempre frio. Só que eu estou nervosa. Bastante. Acho que é exagero, só que meu organismo está apenas externando a confusão da minha cabeça.
Deixe de ser boba, Flávia. Ao invés de lamentar o que você pode perder, aproveite enquanto tem. Seja positiva, você sempre vê o copo meio cheio.
Que delícia, deu pra imaginar como vai ser uauuu!!!