Engoli(n)do pela vida
Eu queria ter vindo aqui hoje com algum texto bacana e cheio de sagacidade para vocês, mas a verdade é que estou trabalhando em excesso durante esse semestre e terei que transformar nossos encontros em quinzenais. Ao menos até a tempestade passar.
Claro que eu não poderia deixar vocês sem nada, então decidi trazer alguns comentários de um parágrafo (ou linha) sobre o que movimentou minha semana.
Ninguém tem culpa por agarrar uma oportunidade (se isso não significa violar direitos humanos nem nada do tipo). A responsabilidade por um mercado literário inflacionado de não autoras e das autoras nacionais não terem oportunidades melhores nas editoras é das próprias editoras. É para elas que nossos dedos devem apontar.
O mercado gira em torno de dinheiro. Todo mercado é assim. Quem tem dinheiro coloca livros no topo da lista, quem não tem depende de sorte (e sabemos que ganhar na loteria também). Quem tem dinheiro para colocar livros no topo ganha mais dinheiro e pode investir para colocar mais livros no topo e assim vai em um círculo vicioso interminável.
A autopublicação é um excelente péssimo negócio para a literatura. A maior plataforma de autopublicação, a Amazon, se transformou em um oceano cheio de livros muito bons escritos por autoras dedicadas e que fazem da literatura uma carreira. Mas também tem sobrando livros escritos por IA, livros que são fanfics (literalmente), violações de direitos autorais (em diversos aspectos), livros sem edição, revisão ou respeito à língua portuguesa e por aí vai. Quando a leitora vai pescar, vem de tudo na rede. Aí sobra o “não tem nada que preste no Kindle Unlimited”.
Exceto que tem, viu? Mas precisa jogar a rede várias vezes (ou o anzol) para pescar alguma coisa boa. Nem toda sardinha é atum.1
Todo dia tem alguém para dizer que romances nacionais não prestam. Nesse mesmo dia, alguém diz que romances não prestam. Também nesse dia, alguém diz que quem escreve romances não presta. Se romances são livros escritos por mulheres e para mulheres, não precisa ser genial para entender que todo dia alguém tenta deslegitimar a literatura feminina, que vende horrores na Amazon e está deixando muita mulher com os bolsos cheios (e outras bem felizes lendo seus romancinhos e não querendo guerra com ninguém).
Livros e quadrinhos são coisas diferentes.
O papel do influencer, em relação ao produto que vende, é um papel de marketeiro. Se é marketing, tem que ter retorno para o “dono” do produto, ou o investimento não vale a pena. Quem pode pagar por publicidade, vai procurar os melhores (e maiores) canais para divulgar sua marca porque é uma ótima forma de construir público e se consolidar no mercado. Apliquemos isso aos influencers literários, porque vale da mesmíssima forma.
Não existe lugar ao sol para todos porque estamos no capitalismo.
Ler e colecionar livros são hobbies distintos. Nem todo mundo curte os dois. Eu gosto de ler e estou pouco me lixando para livro bonito, capa dura, intocável. Os meus são dobrados, riscados, marcados e anotados. Se o seu hobby é diferente do meu, seguimos felizes entendendo que ainda bem que o mundo é diverso.
Por fim, autoras autopublicadas pela Amazon ganham por volta de R$0,007 centavos por página lida e releituras não contam. Tem gente ganhando muito dinheiro, mas dá um trabalhão, viu? Não achem que publicar um livro na Amazon vai te trazer fama e riqueza porque, bem, olha lá o item 8.
Beijos de luz e vamos cuidar da nossa natureza porque daqui a pouco quem estará queimando somos nós.