e... ação! O chamado para seguir adiante.
O que é um incinting event e por que ele é importante para a sua história
Seguimos falando de escrita, técnica, teoria e de livros memoráveis que deixam suas marcas nas leitoras. Ou ao menos sobre como escrevê-los.
Quando sentamos para planejar nossos livros não podemos descuidar de um evento importante que representa um dos principais marcos das histórias: o inciting event.
Traduzindo.
Infelizmente, não sei traduzir. Não consegui achar uma expressão em brasileiro que me satisfizesse, portanto me proponho a explicar o que é esse evento importante e por que ele precisa ser bem planejado para que sua história siga bem.
O site MasterClass explica inciting event como
“[…] um evento que estabelece a jornada que o protagonista ou protagonistas percorrerão durante a narrativa. Tipicamente, esse incidente vai perturbar o equilíbrio do mundo dos personagens diretamente afetados por ele.”
O NowNovel estabelece que
“O inciting event é um episódio, plot point ou evento que prende o leitor na história. Esse momento particular é quando um evento impulsiona o protagonista a realizar o ato principal da história. O guru da escrita Syd Field o descreve como ‘colocando a história em movimento’.”
Ou seja, inciting event é aquilo que determinará a jornada dos protagonistas durante toda a história, que dará o tom da narrativa e que provocará o leitor a seguir lendo e se conectando com a trama. Para ilustramos a sua importância, o site Studio Binder selecionou alguns melhores inciting events do cinema e eu trouxe alguns para vocês:
DURO DE MATAR (filme de 1988) – A chegada do vilão Hans Gruber, que faz um monte de reféns e atrapalha os planos de John McClane naquele Natal.
TUBARÃO (filme de 1975) – A morte de Chrissie Watkins, que desencadeia toda a confusão no filme.
MONSTROS S.A. (filme de 2001) – A chegada da garotinha, que abala a crença de que todos os humanos são assustadores e perigosos.
O inciting event, nesses casos, desencadeou toda a trama de cada filme. Podemos fazer esse exercício com qualquer livro que lemos, de todos os gêneros, e ainda assim descobriremos os mais variados inciting events. Vamos lá?
Em CIDADE DOS OSSOS (de Cassandra Clare), o inciting event se dá quando Clary vê o misterioso bonitão matar um demônio – e percebe que ninguém mais a vê.
Em UM HOMEM DE SORTE (de Nicholas Sparks), o inciting event acontece quando o veterano Logan Thibault encontra a fotografia enterrada, ainda no meio da guerra.
Em ENTRE A CULPA E O DESEJO (de Sarah MacLean), o inciting event é a chegada da intrigante Pippa ao antro de jogatina e seu inusitado pedido para que o canalha Cross a explique sobre os prazeres de um casal.
Segundo o Become a Writer Today, o inciting event acontece logo no início de sua narrativa ou até mesmo no prólogo. Ou seja, o que vinha antes desse evento era uma vida pacata e normal para seus protagonistas até que BANG! Algo acontece e eles precisam se movimentar. O equilíbrio acaba e tudo muda dali para frente, forçando os protagonistas a tomar atitudes. Quem não se lembra do Loki roubando o Tesseract logo nos primeiros minutos de Vingadores e desencadeando toda a ação de um filme de mais de duas horas?
Podemos ter inciting events que consideramos positivos, como o personagem ganhar milhões na loteria ou negativos, como a morte de um pai ou mãe. O que importa é que, depois do evento, o personagem terá sua vida chacoalhada o suficiente para gerar ação e impulsioná-lo pela narrativa.
Para o Jericho Writers, planejar um inciting event deve levar em consideração:
A certeza que o evento é adequado ao gênero da sua história.
Que o inciting event é algo que acontece com o protagonista, e não realizado pelo protagonista.
O evento precisa perturbar o status quo.
O evento precisa criar dúvidas e questionamentos para os leitores.
Todo inciting event tem um senso de urgência, ou seja, impulsiona em ação imediata.
Espera-se que o inciting event aconteça em até 15% da história. Se o autor decide atrasá-lo, precisa de uma razão muito forte ou pode prejudicar o envolvimento do leitor com a trama.
Esses eventos se dividem em três tipos: o de causa, o de coincidência e o ambíguo.
Um inciting event causal é resultado de uma escolha que pode ser tanto do protagonista quanto de alguém a ele relacionado. Um inciting event de coincidência acontece quando alguma coisa inesperada acontece e rompe o equilíbrio da vida do protagonista. O ambíguo pode ser tanto de causa quanto de coincidência, mas o leitor só terá certeza disso mais à frente da narrativa.
Em resumo, o que importa ter em mente sobre o inciting event:
Ele acontece no início da narrativa, geralmente entre 10 e 15% da história.
Ele não é um evento “pano de fundo”, mas principal.
Ele rompe com o balanço da “vida normal” do protagonista.
Ele provoca o protagonista a tomar atitudes e o impulsiona para a ação.
Ele conecta o leitor com a história, gera dúvida e faz com que o leitor deseje saber o que acontece adiante.
E o mais importante: geralmente haverá mais de um inciting event na sua história pois cada plot, subplot ou sequência produzirá a necessidade de uma mudança ou um impulsionamento para o protagonista e o inciting event é o catalisador necessário para que isso aconteça!
Vamos discutir nos comentários? Você está escrevendo e quer contar seu inciting event para nós (se puder) ou quer trazer exemplos para conversarmos? Bora lá!
Excelente texto!
Não escrevo romances, minhas histórias são os artigos ciêntificos que publico. Eles se encotram em algumas tecnicas como estrutura em 3 ou 5 atos e Ganchos entre outros. No incinting event, eu vejo como o objetivo da pesquisa aquilo que moveu o pesquisador.
Meu intuito aqui não é discutir artigos cientificos de modo algum, mas apreender com quem conta histórias de forma eloquente e que envolvem. Tenho muito a apreender. Muito Obrigada.